A imprensa alternativa no acervo do Sistema Nacional de Informações 1964-1985
-
Apresentação
Em abril de 1964, o golpe militar que depôs o presidente João Goulart (1961-1964) instaurou no Brasil um período ditatorial cuja justificativa era resolver a crise econômica e o clima subversivo dos anos anteriores, afastando da política os opositores desta nova ordem. Entre os militares das Forças Armadas, o anticomunismo era um sentimento comum. Evitar que o Brasil viesse a se tornar um país comunista passou a ser a principal preocupação, segundo a lógica da ideologia propugnada nos países ocidentais durante a Guerra Fria.
Tal imaginário afligia também outras parcelas da sociedade brasileira pré-1964, angústia esta manifestada no protesto anticomunista conhecido como Marcha da Família com Deus pela Liberdade, contra a "baderna e a corrupção", ocorrido em 19 de março de 1964.Após o golpe militar, os sindicatos foram desorganizados. O movimento estudantil foi posto na ilegalidade no governo do general Castelo Branco e passaria a ser alvo de inúmeras medidas arbitrárias e violentas. O Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em 1922, foi levado à clandestinidade e, pulverizado em inúmeras tendências e denominações, teve de se reestruturar para enfrentar a ditadura. Diante desta situação, a luta armada foi uma opção que mobilizou grupos como a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), estimulados pelo sucesso da Revolução Cubana.
No dia seguinte à publicação do primeiro Ato Institucional, decretado em 9 de abril do mesmo ano, foi divulgada a primeira lista de cassados: entre os 102 nomes, estavam os de Luís Carlos Prestes, Leonel Brizola, Celso Furtado, dos ex-presidentes João Goulart e Jânio Quadros, além de 29 líderes sindicais e alguns oficiais das Forças Armadas. Este e os Atos Institucionais seguintes possibilitaram ao governo cassar direitos políticos e mandatos parlamentares; extinguir partidos políticos; estabelecer foro militar para civis acusados de crimes contra a segurança nacional; suspender a garantia do habeas corpuspara os acusados de crimes contra a segurança nacional, entre outras medidas repressivas.
É nesse contexto que ganha força a imprensa alternativa no Brasil. Embora não seja resultado da Guerra Fria - pois sua existência é anterior àquele período, datando do século XIX -, tampouco um fenômeno restrito a regimes autoritários - haja vista seu desenvolvimento nos Estados Unidos e na França no esteio do movimento de contracultura -, é no final dos anos 1960 que os jornais alternativos proliferam.
Também conhecida como imprensa nanica, imprensa política, jornalismo opinativo, imprensa contra-hegemônica, a imprensa alternativa floresceu durante o regime militar devido a uma confluência de fatores, como a busca de jornalistas e pensadores por espaços onde pudessem divulgar livremente suas opiniões, longe da censura e repressão governamental. Além disso, houve a necessidade, por parte de movimentos e organizações de esquerda, de canais de expressão fora do bloqueio estatal que ligassem pessoas com perspectivas políticas em comum. Assim, os jornais e revistas alternativos foram, ao mesmo tempo, mecanismos de resistência e meios para que órgãos e partidos de esquerda, na clandestinidade, pudessem veicular e divulgar seus ideários.
Marcadamente contra o regime militar, o milagre econômico e a censura sistêmica imposta aos meios de comunicações, a imprensa nanica também abordava em suas páginas questões de direitos humanos - como as práticas de tortura impostas aos opositores do governo, os direitos das mulheres, os movimentos negro e gay. Os tabloides de humor e as charges e caricaturas nos jornais serviram como instrumentos eficazes de crítica aos militares e seus apoiadores.
Não obstante, assim como a militância política, fazer imprensa alternativa no Brasil era uma atividade de risco. O governo impôs restrições para a livre expressão de manifestação do pensamento e da informação, regulamentadas pela Constituição de 1967 (artigo 8º, § 8º), pela Lei de Imprensa (lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967) e pela Lei de Segurança Nacional (decreto-lei nº 898/69, artigo 16). Os jornais e jornalistas que publicassem matérias contrárias à moral e aos bons costumes, ou fizessem propaganda de guerra, de subversão da ordem, preconceitos de religião, raça ou classe, estavam sujeitos a penas de detenção e multas.
A exposição virtual a seguir pretende mostrar ao público uma parcela da história da imprensa alternativa durante o regime militar, apresentando a pluralidade temática e a estética dos jornais e revistas criados, bem como a repressão que sofreram nas mãos dos órgãos de segurança e informações governamentais e pelos movimentos anticomunistas. Com base nos jornais apreendidos pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), a exposição está estruturada em três módulos: em sua primeira seção, apresenta a formação da imprensa alternativa, os artigos e reportagens com críticas ao governo e ao milagre econômico e o humor como arma política. O segundo módulo traz imagens dos jornais alternativos centrados na crítica ao moralismo e voltados para as temáticas sociais - o índio, o negro, as mulheres, a sexualidade. Por fim, o terceiro módulo apresenta a luta da imprensa contra-hegemônica pela defesa dos direitos humanos, pela anistia e pela instalação de uma assembleia constituinte; mostra também os atentados que muitos jornais e pontos de venda sofreram de grupos militares e anticomunistas.
Pablo Franco
Curador -
Galerias
Política e humor nos alternativos
Capa do Pasquim
Pasquim
Charges no Coojornal
Hora do Povo
Boca do Inferno
Lampião
Coojornal
Assinaturas e anunciantes
Anunciantes da imprensa alternativa
Existência e sobrevivência dos jornais alternativos
Arrecadação de verbas
Capa do jornal Movimento
Ensaios populares - Movimento
Capa da edição zero do jornal Em Tempo
Tribuna da Luta Operária
Custo de vida dos trabalhadores
Alvo preferencial
Crítica à política econômica
Voz da Unidade
Órgão de divulgação do PCB
Capa da revista Atenção
Jornais e reportagens de contracultura e minorias
Boca do Inferno
Seca na Bahia
Entrevista de Pierre Bourdieu
Jornal Repórter
Jornais e reportagens de contracultura e minorias
Questões de comportamento
Convergência Socialista
II Congresso da Mulher Paulista
Movimento de libertação de mulheres na União Soviética
Eleições presidenciais norte-americanas de 1980
Voz da Unidade
O Trabalho
Le Gai Pied
Gay Sunshine
Capa da edição especial sobre o Brasil do jornal Gay Sunshine
Movimento
Em Tempo
Artigo do jornal francês Libération
Jornal do Gay
Resenha sobre artigo publicado na New York Magazine
Direitos humanos, anistia, redemocratização e os últimos anos da imprensa alternativa
Pasquim
Charge de Ziraldo no Pasquim
Em Tempo
Voz da Unidade
Capa da primeira edição do jornal Convergência Socialista
O Trabalho
Coojornal
Declínio do Coojornal
Nosso Tempo
Movimento
Resistência
Jornal Em Tempo - lista de torturadores
Jornal Em Tempo - segunda lista de torturadores
Fachada da redação do jornal Em Tempo após atentado
Atentado à redação do jornal Em Tempo
Atentado à banca de jornal em Madureira
Artigo do Movimento sobre a abertura política
Defesa da imprensa alternativa
Campanha do jornal Movimento
Movimento - Atentado ao Riocentro
Repórter - Atentado ao Riocentro
Capa do jornal O Trabalho
Jornal Em Tempo - movimento sindical
Convergência Socialilsta
Constituinte
Hora do Povo
Tribuna da Luta Operária
-
Sobre as imagens
Política e humor nos alternativos
Capa do Pasquim - BRANBSB V8 ACE A010860
Pasquim - BRANBSB V8 ACE A010860
Charges no Coojornal - BRANBSB V8 ACE A104199
Hora do Povo - BRANBSB V8 ACE A007574
Boca do Inferno - BRANBSB V8 ACE A095597
Lampião - BRANBSB V8 ACE A097894
Coojornal - BRANBSB V8 ACE A104199
Assinaturas e anunciantes - BRANBSB V8 ACE A104199
Anunciantes da imprensa alternativa - BRANBSB V8 ACE A104199
Existência e sobrevivência dos jornais alternativos - BRANBSB V8 ACE A104199
Arrecadação de verbas - BRANBSB V8 ACE A104199
Capa do jornal Movimento - BRANBSB V8 ACE A010854
Ensaios populares - Movimento - BRANBSB V8 ACE A105111
Capa da edição zero... - BRANBSB V8 ACE A108912
Tribuna da Luta Operária - BRANBSB V8 ACE A008832
Custo de vida dos trabalhadores - BRANBSB V8 ACE A010120
Alvo preferencial - BRANBSB V8 ACE A010857
Crítica à política econômica - BRANBSB V8 ACE A015946
Voz da Unidade - BRANBSB V8 ACE A015977
Órgão de divulgação do PCB - BRANBSB V8 ACE A012739
Capa da revista Atenção - BRANBSB V8 ACE A006442
Jornais e reportagens de contracultura e minoriasBoca do Inferno - BRANBSB V8 ACE A095597
Seca na Bahia - BRANBSB V8 ACE A095597
Entrevista de Pierre Bourdieu - BRANBSB V8 ACE A010863
Jornal Repórter - BRANBSB V8 ACE A018126
Repórter - BRANBSB V8 ACE A018126
Questões de comportamento - BRANBSB V8 ACE A018126
Convergência Socialista - BRANBSB V8 ACE E001497
II Congresso da Mulher Paulilsta - BRANBSB V8 ACE A006530
Movimento de libertação ... - BRANBSB V8 ACE A012740
Eleições presidenciais ... - BRANBSB V8 ACE A012740
Voz da Unidade - BRANBSB V8 ACE A015977
O Trabalho - BRANBSB V8 ACE A010853
Le Gai Pied - BRANBSB V8 ACE 3580
Gay Sunshine - BRANBSB V8 ACE 3580
Capa da edição especial ... - BRANBSB V8 ACE 3580
Movimento - BRANBSB V8 ACE A010854
Em Tempo - BRANBSB V8 ACE A010863
Artigo do jornal francês Libération - BRANBSB V8 ACE A010854
Jornal do Gay - BRANBSB V8 ACE 3580
Resenha... - BRANBSB V8 ACE 3580
Direitos humanos, anistia e redemocratizaçãoPasquim - BRANBSB V8 ACE A018170
Charge de Ziraldo ... - BRANBSB V8 ACE A018170
Em Tempo - BRANBSB V8 ACE A0108912
Voz da Unidade - BRANBSB V8 ACE A012598
Capa da primeira edição ... - BRANBSB V8 ACE E001497
O Trabalho - BRANBSB V8 ACE A002046
Coojornal - BRANBSB V8 ACE A104199
Declínio do Coojornal - BRANBSB V8 ACE A104199
Nosso Tempo - BRANBSB V8 ACE A104199
Movimento - BRANBSB V8 ACE A012743
Resistência - BRANBSB V8 ACE A012736
Resistência - artigo sobre ... - BRANBSB V8 ACE A008436
Jornal Em Tempo - lista ... - BRANBSB V8 ACE A001143
Jornal Em Tempo - segunda ... - BRANBSB V8 ACE A001143
Fachada da redação ... - BRANBSB V8 ACE A009075
Atentado à redação ... - BRANBSB V8 ACE A009075
Atentado à banca de jornal ... - BRANBSB V8 ACE A009367
Artigo do Movimento ... - BRANBSB V8 ACE A010854
Defesa da imprensa alternativa - BRANBSB V8 ACE A010854 e BRANBSB V8 ACE A010863
Campanha do jornal Movimento - BRANBSB V8 ACE A018149
Movimento - Atentado ao Riocentro - BRANBSB V8 ACE A018149
Repórter - Atentado ao Riocentro - BRANBSB V8 ACE A018126
Capa do jornal O Trabalho - BRANBSB V8 ACE A002046
Jornal Em Tempo - movimento sindical - BRANBSB V8 ACE A010863
Convergência Socialista - BRANBSB V8 ACE A006530
Constituinte - BRANBSB V8 ACE A107102
Hora do Povo - BRANBSB V8 ACE A015946
Tribuna da Luta Operária - BRANBSB V8 ACE A015945 -
Ficha Técnica
A exposição A imprensa alternativa no acervo do Sistema Nacional de Informações 1964 - 1985foi realizada pela Coordenação Regional do Distrito Federal/Arquivo Nacional exclusivamente para o ambiente virtual.
Organizada em três módulos, apresenta exemplares de jornais da imprensa alternativa que constituiram um dos mecanismos de resistência para que órgãos e partidos de esquerda brasileiros, colocados na clandestinidade, pudessem veicular seus ideários durante o período da ditadura militar. As imagens foram pesquisadas nos jornais apreendidos pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), hoje integrantes do fundo de mesmo nome custodiado pelo Arquivo Nacional.
As reproduções que integram a exposição receberam tratamento digital de forma a melhorar o aspecto visual para o ambiente eletrônico. Foram editadas de modo a compor a narrativa da exposição e, portanto, não correspondem aos tamanhos originais dos documentos, além de terem sofrido alterações de cor e contraste para facilitar a visualização e realçar detalhes.
-
Créditos
Presidenta da República
Dilma RousseffMinistro de Estado da Justiça
Eugênio de AragãoDiretor-Geral do Arquivo Nacional
José Ricardo MarquesCoordenadora-Geral da Coordenação Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal
Vivien IshaqCoordenadora-Geral de Acesso e Difusão Documental
Maria Aparecida Silveira TorresCoordenação de Pesquisa e Difusão de Acervo
Maria Elizabeth Brêa MonteiroAssessoria de Comunicação Social
Claudia Miller
ExposiçãoCuradoria/ Seleção de imagens/ Textos e legendas
Pablo E. FrancoPesquisa de imagens
Pablo E. Franco
Marcelo de Souza Romão (estagiário)
Roger Gomes dos Santos Silva (estagiário)Revisão de textos
Maria Rita Aderaldo
Renata dos Santos FerreiraDigitalização
Camila FrançaProgramação visual
Sueli AraújoTratamento de imagens
M&W Comunicação Integrada Ltda.