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Jornais e reportagens de contracultura e minorias

Se os primeiros jornais alternativos, mesmo os humorísticos, surgidos durante o regime militar concentravam seus artigos nos temas políticos e econômicos, gradativamente outros temas foram ganhando espaço na imprensa contra-hegemônica brasileira. Influenciados pelo movimento de contracultura e do new journalism norte-americanos - que trouxeram à baila questões sociais e de comportamento sob uma nova ótica, aproximando a narrativa jornalística da literatura -, nasceram na imprensa alternativa brasileira jornais cujos temas, diagramação e narrativa mais subjetiva inovaram o fazer jornalístico nacional.

Esta nova forma de ativismo político, que não estava alinhada com a ideologia de esquerda tradicional, trouxe uma diversidade temática ao universo da imprensa alternativa brasileira durante a década de 1970. Por diversas razões, temas como feminismo, sexualidade, movimento negro, drogas, orientalismo, anarquismo e existencialismo não estavam presentes nos outros nanicos ou eram tratadas com condescendência.

O movimento feminista é um exemplo claro. Em alguns órgãos da imprensa contra-hegemônica brasileira, como O Pasquim, o feminismo estava associado à frustração sexual. O desejo de muitas mulheres em expressar, em um espaço próprio, as suas ideias, os seus anseios e as suas bandeiras políticas por meio de categorias analíticas novas - como o conceito de gênero - motivou a criação de jornais voltados para elas. Assim é o caso do pioneiro Brasil Mulher, criado em 1975, que foi seguido pelo Nós Mulheres, Maria Quitéria, Correio da Mulher e Mulherio.

A sexualidade era outro tema tabu dentro dos jornais opinativos de esquerda. Saturados por uma moral conservadora, os principais alternativos não davam espaço em suas pautas para a liberdade sexual e a busca pelo prazer pessoal. O primeiro jornal nanico brasileiro a discutir tais questões foi Beijo, em 1977, seguido pelo Lampião de esquina e o Jornal do Gay, estes voltados diretamente ao público homossexual.

Gradativamente, outros órgãos da imprensa alternativa começaram a abordar essa temática. Jornais como Movimento, Em Tempo, Convergência Socialista e O Trabalho, de caráter eminentemente político, passaram a expor, em suas páginas, a situação das mulheres, o racismo no Brasil, a liberdade sexual e a questão indígena.

Embora vários jornais e revistas alternativos tenham sido criados durante o regime militar sob o pálio do movimento de contracultura e de temas de minorias, numéricas ou políticas, há poucos registros deles no SNI, e ainda menos foram os exemplares apreendidos e preservados, indicando que o foco do serviço secreto brasileiro estava centrado no que era considerado subversão político-partidária.

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