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O Rio do morro ao mar

Ritmo das obras

"Tudo delira e todos nós estamos atacados de megalomania. De quando em quando, dá-nos essa moléstia e nós nos esquecemos de obras vistas, de utilidade geral e social, para pensar só nesses arremedos parisienses, nessas fachadas e ilusões cenográficas. Não há casas, entretanto queremos arrasar o morro do Castelo, tirando habitação de alguns milhares de pessoas. Como lógica administrativa, não há coisa mais perfeita! O mundo passa por tão profunda crise, e de tão variados aspectos, que só um cego não vê o que há nesses projetos de loucura, desafiando a miséria geral. Remodelar o Rio! Mas como? Arrasando os morros... Mas não será mais o Rio de Janeiro; será toda outra qualquer cidade que não ele."

Lima Barreto. Revista Careta, 28 de agosto de 1920.

 

O ritmo das obras do Castelo oscilou bastante. O início da demolição foi bastante lento, começou nos fundos da avenida Rio Branco, para abertura da rua México. A chácara da Floresta, uma espécie de sub-bairro dentro do Castelo, onde quase mil pessoas moravam principalmente em estalagens e casas de cômodo, foi logo posta abaixo. Neste momento, o trabalho era mais braçal, realizado na base da picareta, e a terra removida com carroças puxadas por cavalos e burros. Quando a demolição começou a subir o morro e atingir as construções mais antigas, como as igrejas de São Sebastião e de Santo Inácio, o chafariz, o antigo complexo jesuíta e todas as casas no entorno, bem como as ladeiras de acesso, o processo de destruição já havia avançado um pouco. A instalação de linhas férreas facilitava a remoção da terra já feita com escavadeiras, além das picaretas. Em seguida, as obras receberam o poderoso auxílio dos jatos d'água, que além de destruir o barro mais rapidamente, ainda tinham a vantagem de facilitar no escoamento da terra em direção à baía, onde viraria aterro. Nesta fase, o foco da obra era na região da Misericórdia e atrás da Igreja de Santa Luzia, localidade onde se concentrariam os novos palácios e pavilhões da exposição. A última parte do morro a vir abaixo foi o lado que ficava mais próximo ao velho Paço Imperial, vizinho à Igreja de São José.

Em 20 de janeiro de 1922, dia de São Sebastião, aconteceu o traslado da imagem do padroeiro, do túmulo e restos mortais de Estácio de Sá e do marco da cidade para a nova Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca. Esta última missa foi celebrada do lado de fora da velha Sé, no largo que ficava em frente à igreja onde aconteciam as festas religiosas a que acorria a população da cidade, e foi largamente documentada pela imprensa da época e fotografada. Contou com aproximadamente dez mil fiéis, além de autoridades, como o prefeito Carlos Sampaio e o presidente da República, Epitácio Pessoa, que vieram se despedir da igreja mais antiga da cidade, do século XVI. Parte dos retábulos e de outras preciosidades de grande valor artístico e histórico do complexo dos Inacianos foi transferida para a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, no largo da Misericórdia. Depois da mudança das relíquias do Castelo para outras partes da cidade, as obras intensificaram-se e os prédios religiosos começaram a ser postos abaixo.

O processo completo de arrasamento, de abertura de vias e urbanização dos terrenos levou mais de uma década. Ao fim do mandato de Carlos Sampaio, chegou-se a cogitar a interrupção das obras que esvaziaram os cofres da prefeitura, provocaram empréstimos astronômicos e geraram dívidas enormes para seus sucessores. No entanto, tanto a legislação que autorizou a derrubada, quanto as obras em andamento, tornaram impossível voltar atrás na demolição. A Esplanada do Castelo só começou a tomar forma e ser ocupada por novas construções nos anos 1940-1950. As obras foram integralmente encerradas somente na administração do prefeito José Joaquim de Sá Freire Alvim, no final da década de 1950.

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