Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

Manifestações e movimentos sociais

Escrito por Denise Bastos

Década de intensa polarização, os anos 1960, no Brasil, foram palco de alianças e coligações partidárias e de mobilizações populares inspiradas pelos mais diversos matizes ideológicos. Na pauta do governo João Goulart, o enfrentamento de questões como reforma agrária, política externa, melhorias no ensino, avanços nas relações trabalhistas - as chamadas reformas de base, debatidas em meio a um cenário de grave crise econômica.

Na esfera partidária, o quadro político presente ao longo de todo o governo de João Goulart caracterizou-se pelo pluripartidarismo, com mais de dez legendas em funcionamento. Em um delicado jogo de forças, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN), ora em alianças, ora em oposição, lideravam esse cenário, tendo conseguido eleger mais de 80% dos senadores, nos pleitos de 1954 e 1958; 48% dos deputados federais em 1958; o presidente da República e o vice, em 1960. Quanto ao eleitorado, desde 1881, com a chamada Lei Saraiva, o voto dos analfabetos era proibido, interdição repetidamente confirmada por mais de um século até 1985. Assim, considerando-se que a taxa de analfabetismo entre a população de 15 anos ou mais era de 39,6%, no pleito de 1960 uma parcela expressiva da população brasileira não foi considerada apta a votar.

No meio rural, as relações sociais eram marcadas por conflitos agudos em que escrituras falsas, grilagem de terras, incêndios criminosos de plantações e casas, matança de animais, contratação de capangas armados para obter a venda de terras a preços irrisórios eram recursos frequentemente empregados. Essas antigas disputas acirraram-se e transformaram-se em um dos mais graves problemas sociais do país. A mobilização dos trabalhadores rurais, inicialmente atomizada, ganhou corpo com a formação de associações posteriormente aglutinadas sob o nome de Ligas Camponesas, movimento que lutava pela reforma agrária radical. Iniciadas em Pernambuco, espalharam-se por diversos estados brasileiros, conferindo projeção nacional aos problemas do campo. Foram duramente reprimidas, inclusive com o uso da violência, tanto por parte do estado quanto dos latifundiários. A proposta de reforma, que sempre fora alvo de forte resistência por parte dos proprietários de terras, dos deputados da União Democrática Nacional (UDN), do Partido Social Democrático (PSD) e de setores da Igreja Católica foi encaminhada, pelo presidente João Goulart, ao Congresso Nacional que a rejeitou, abrindo espaço para que os embates recrudescessem.

Nas cidades, duas grandes forças políticas sobressaíam - a União Nacional dos Estudantes (UNE) e os sindicatos. Organizada em 1937, a UNE participou ativamente do debate sobre a educação superior no Brasil durante os primeiros anos da década de 1960. Entre suas principais bandeiras estavam a denúncia do caráter elitista desse nível de ensino que, em 1960, matriculava menos de um aluno por mil habitantes; a defesa do ensino público; a crítica à existência das cátedras vitalícias; a reivindicação de concursos públicos para a admissão de professores; e a demanda por participação dos estudantes no órgãos colegiados das universidades.

Os sindicatos de trabalhadores, existentes no país desde o início do século XX, experimentaram uma significativa projeção durante o governo João Goulart, com o qual mantinham um estreito canal de comunicação. Nesse período, ocorreu uma escalada dos movimentos grevistas, concentrados no setor público e espalhados por diversas regiões do país, reivindicando tanto questões trabalhistas quanto políticas.

Após o golpe que derrubou o presidente João Goulart e nos anos que se seguiram, mandatos parlamentares foram cassados, os partidos políticos extintos e muitos dos seus membros presos, o mesmo acontecendo aos dirigentes da UNE e dos sindicatos. O debate público também foi golpeado em 1964.

Fim do conteúdo da página