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Apresentação

O Império do Brasil situa-se entre dois exílios, o do príncipe do Antigo Regime tangido pela Revolução Francesa e o do monarca que tantas crises sucessivas empurram para a França. A chegada de Leopoldina, a partida de Pedro I, são deslocamentos que não foram exclusivos da família imperial. Outros mais trágicos foram feitos a bordo dos navios que se ocupavam "do negócio da escravatura", além das viagens de naturalistas, artistas e de outros que vinham para ficar, os imigrantes.

O período assinala o nosso século XIX, tal como o percebemos seguindo a escrita da história e as "pegadas" deixadas em papel. No acervo do Arquivo Nacional, que comemora 170 anos de sua criação, seguimos pela diversidade da correspondência manuscrita, manifestos impressos, fotografias, gravuras, livros raros, mapas e plantas. De origem pública pu privada, eles descrevem parte de um tempo e de uma geografia. Entre a continuidade do projeto ilustrado luso-brasileiro e a ruptura que enuncia um esboço de Nação, o Império se construiu sobre lutas violentas; a unidade garantida pela ordem escravocrata, a identidade com a natureza opulenta, o espelhamento com a Europa, entre tantas apostas e contradições. Com esse olhar segue-se também pelo diploma escolar, pelas notícias da febre amarela, vistas do Rio de Janeiro, pela Guerra do Paraguai e a Abolição, desenhos botânicos, projetos urbanos, portos, ferrovias, cartas familiares, cartas de liberdade, exposições internacionais. Também se renovam aqui documentos fundadores como a Constituição de 1824, a Lei Áurea, e a carta que eleva o Brasil a Reino Unido em 1815.

Esse é o século das multidões, do nascimento do socialismo, do ideário romântico; século vitoriano, da expansão imperialista, tantas vezes evocado como o século da história. É assim que enxergamos as contradições próprias ao projeto senhorial: a fórmula do Império nos trópicos ilumina a aspiração ao modelo europeu conjugada à origem épica americana. E também o que lhe escapa, uma imagem desafiando a outra, em textos ou na ilimitada produção iconográfica que circula no oitocentos.

Um reconhecido amante da fotografia e viajante ávido de terras e línguas distantes, d. Pedro II aparece pela última vez através das lentes do célebre Félix Nadar, síntese de um desfecho. Mas em outro trecho há um pouco da alegria e do olhar para o futuro que se anunciaram no oitocentos no dirigível balão Brasil, que tendo à frente a bandeira do Império, pretendia alçar voo.

Cláudia Beatriz Heynemann
Curadora 

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