Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

A coleção da Fundação Brasil Central

A coleção de cerâmica do Tapajós, composta por mais de 1.800 peças, foi adquirida, em 1945, pelo então presidente da Fundação Brasil Central (FBC), João Alberto Lins de Barros. Pertencia a Robert Carlton Brown (1886-1959), escritor, editor de magazines e revistas norte-americano que, depois de viajar pelo México e América Central escrevendo para o Comitê de Informação Pública dos Estados Unidos da América do Norte (EUA) em Santiago do Chile, fundou no Rio de Janeiro a Brazilian American, revista semanal publicada até 1929. Em 1941, Robert e sua esposa Rose voltaram para a América do Sul, viajaram pela Amazônia e acumularam um conjunto substancial de artefatos artísticos e culturais, além de colaborar em um livro, Amazing Amazon (1942). O casal viveu no Rio de Janeiro até 1952.

Primeiramente, em 1944, essa coleção de cerâmica foi exposta no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), em Santarém, Pará, obra resultante de acordo firmado entre os governos do Brasil e dos EUA.

A aquisição da coleção tinha como destino o museu que a FBC pretendia criar em Aragarças e que teria como diretor o etnólogo Curt Nimuendaju. O relatório da FBC relativo ao ano de 1945 expressa os objetivos dessa aquisição e o adiamento da abertura do museu:

“Durante o exercício de 1945 a Presidência [ministro João Alberto], como lhe compete, orientou, dirigiu e fiscalizou a execução dos serviços de todos os setores da fundação. Especialmente, e além dos encargos afetos aos seus vários órgãos, iniciou entendimento para a criação de um Departamento Cultural na fundação, para assumir a chefia do qual foi convidado o eminente etnólogo Curt Nimuendaju, infelizmente falecido a 10 de dezembro. A esse novo departamento deveria caber a organização de um museu etnológico em Aragarças, para o que foi adquirida, do Sr. Robert C. Brown, a maior coleção de cerâmica de Santarém existente no mundo, composta de mais de 9.500 peças. Motivos supervenientes, entretanto, forçaram o adiamento dessa realização.” (AN, Fundo Paulo de Assis Ribeiro, BR_RJANRIO_S7_CX016_PT002)

A demora para se organizar um local adequado para essa coleção ensejou uma disputa entre os dois maiores museus de ciências do Brasil na época: o Museu Paraense Emilio Goeldi, situado em Belém, e o Museu Nacional, do Rio de Janeiro.

Em atendimento ao governo do Estado do Pará, o gabinete civil da Presidência da República solicita, em carta datada de 18 de abril de 1949, a doação da coleção ao Museu Goeldi, “uma vez que aquele museu deve ser o depositário natural da mesma, o que constitui justa pretensão da intelectualidade paraense”. Tal pedido foi negado pela Fundação Brasil Central, causando algum estranhamento entre certas instâncias de poder. Em sua resposta, o presidente da fundação enfatizou o valor histórico e arqueológico da coleção, sugerindo, então, que a FBC recebesse uma compensação material, “tanto mais que o valor real da coleção de que esta iria desfazer-se é, em geral, estimado muito acima da quantia que por ela foi paga em transação de cunho não comercial”.

Cabe mencionar que esse conjunto de cerâmica do Tapajós ensejou considerável atenção expressa por pesquisadores nacionais e estrangeiros, a exemplo do casal Dudley Easby, arqueólogos ligados ao Metropolitan Museum, e da arqueóloga Helen C. Palmatary, do Museu da Universidade da Pensilvânia, assim como por uma celeuma envolvendo uma suposta doação da coleção ao influente jornalista Assis Chateaubriand.

No início de 1951, o Museu Nacional interveio, solicitando à FBC, por empréstimo, a coleção de cerâmicas para realização de estudos, incumbindo-se, segundo a diretora Heloísa Alberto Torres, de “restaurar esse material, dentro das medidas permitidas pela boa técnica científica moderna e entregaria à fundação relatório pormenorizado sobre o estudo a que tiver procedido”.

A solicitação de cessão recebeu parecer favorável ao Museu Nacional pela direção e por seu conselho diretor, com a observação de que “passará a ter a denominação de coleção Fundação Brasil Central e será devolvida a esta entidade, oportunamente, quando estiver para ser inaugurada a seção ‘Museu Brasil Central’ que pretendemos instalar em nossa futura sede, em Aragarças”. As negociações com o Museu Nacional se estenderam ao longo da segunda metade da década de 1950 e, em 1959, as coleções de cerâmica tapajônica e de zoologia, esta organizada pelo ornitólogo Helmut Sick, foram cedidas, em caráter definitivo, ao Museu Nacional, estabelecendo-se que as peças ficassem em “permanente exibição ao público”, com indicação de sua procedência.

Em março de 1966, a Fundação Brasil Central criou nas dependências do colégio Elefante Branco, em Brasília, um museu de ciências naturais que deveria reunir o resultado científico das diversas expedições realizadas pela fundação no território brasileiro, no intuito de divulgar as atividades de exploração e integração de regiões até então praticamente intocadas. Esse museu teve vida breve, sendo fechado por ocasião da extinção da Fundação Brasil Central em 1967.

Fim do conteúdo da página