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Cronistas e viajantes

O Brasil entra no mapa das viagens contemporâneas a partir do seu “redescobrimento” desencadeado pela vinda da corte portuguesa e pelo fim das guerras napoleônicas do primeiro quartel do século XIX. Viajantes de diversas origens e com variados objetivos passam a explorar o território, formando coleções, produzindo narrativas e uma longa série de imagens que vieram desigualmente de amadores, artistas, desenhistas, em aquarelas, gravuras e litogravuras.

O “paraíso dos naturalistas” foi percorrido por nomes como Auguste de Saint-Hilaire, Carl Philipp von Martius, Louis Agassiz, Hermann Burmeister, entre muitos outros que seguiram os pressupostos das viagens científicas na abrangência e catalogação do mundo natural, descrição dos habitantes, usos, costumes, além da composição visual de cenas nas quais é frequente a presença do naturalista, do observador. Tendo como elemento constante os indígenas, que muitas vezes se integraram às expedições, procurava-se documentar os rituais, perfis, ornamentos, armas de guerra, utensílios cotidianos e as expressões musicais e linguísticas que se pudessem colecionar e inscrever.

Ainda no século XIX, a produção fotográfica traz a imagem técnica para a história visual das viagens e cria outros padrões de registro e classificação também em consonância com as teses antropológicas e a etnografia, embora se constate uma escassez de retratos de indígenas no século XIX, exceção feita a daguerreótipos dos anos de 1840 dos chamados Botocudos e a fotografias da década de 1860. Também se destacam desse século o conjunto de 98 imagens tiradas na Amazônia por A. Frisch em 1867 e os resultados da Comissão Geológica do Império, de 1875, com Marc Ferrez em suas fileiras, que gerou retratos dos temidos Botocudos na Bahia e logrou conduzir índios Bororo a um estúdio em Mato Grosso.

Nas últimas décadas do XIX, destaca-se a expedição de Henri Coudreau com uma primeira jornada entre 1883 e 1885, contratada pelo governo do Pará, sucedida por outras que se estendem pela década de 1890 até a morte do viajante em 1899 no Lago Tapagem, no Amazonas. O início do século XX vê chegar a várias regiões, sobretudo na Amazônia, viajantes que, seguindo a tradição científica, têm, todavia, outros enunciados: médicos higienistas brasileiros como Oswaldo Cruz e antropólogos como o alemão Curt Unkel (ou Curt Nimuendaju), que chega ao Brasil no início dos anos de 1910 e deixa obras como As lendas da criação e da destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocuva-Guarani, de 1914, e o Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes, de 1944. Outra expedição seminal, promovida pelo Departamento de Cultura de São Paulo em 1938, levou o antropólogo estruturalista francês Claude Lévi-Strauss aos atuais estados de Mato Grosso e Rondônia; dessa experiência, resultaria sua obra Tristes trópicos.

Conquista, peregrinação, posse do território, expedição científica, comercial ou militar. Em suas variadas motivações, ao longo do tempo, os viajantes mantiveram diálogo a partir dos diários, desenhos, fotografias, filmes, mapas e coleções que, desde o século XVI, construíram o fenômeno da viagem moderna.

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