O Brasil se prepara para a guerra
O Brasil se prepara para a guerra
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi criada em agosto de 1943, quase um ano depois da declaração de guerra do Brasil aos países do Eixo, Alemanha, Itália e Japão. Depois de um longo período de indecisão sobre se deveria ou não enviar homens à guerra, o governo brasileiro acabou determinando que remeteria três divisões de vinte mil homens cada, fora o contingente não divisionário. Na prática, mandou apenas uma divisão, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), com aproximadamente 15 mil combatentes diretos e dez mil homens e mulheres de pessoal de apoio, engenheiros, médicos, enfermeiras, funcionários do Banco do Brasil, entre outros.
Entre a criação da FEB e a organização efetiva da divisão para seguir para a Europa passou-se mais um tempo: apenas em 1944 os convocados e voluntários começaram a fazer os exames médicos necessários para o escrutínio sobre quem estava apto fisicamente a ir à guerra. A demora na convocação virou brincadeira popular que costumava afirmar que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil mandar tropas para a guerra.
Não custa lembrar que o Brasil nos anos 1940 era um país essencialmente rural, com muitas pequenas cidades e poucas grandes, com exceção do Rio de Janeiro, que era o Distrito Federal, e São Paulo. A população era em sua grande maioria pobre, analfabeta, marcada por alta mortalidade infantil, assolada constantemente por endemias, e tinha pouco acesso a serviços sanitários, de saúde preventiva e a médicos. Verminoses, parasitoses, tuberculose, hanseníase eram ainda doenças que atingiam uma parcela significativa dos brasileiros, especialmente aqueles que habitavam o interior do país.
A convocação para a FEB incluiu moradores de todo o Brasil, de cidades maiores e menores, dos meios rurais, com baixa ou alta escolaridade. Escusado dizer que a saúde precária dos brasileiros apareceu nos exames médicos: os critérios de seleção incluíam ao menos cinco anos de escolaridade, altura de 1,65 m, peso de 60 kg, 26 dentes e saúde aparentemente boa; não houve avaliação psíquica. A maioria dos homens esbarrava principalmente no nível de escolaridade e na saúde dentária. Afinal, os critérios tiveram que ser relaxados para poder arregimentar um contingente mínimo necessário de soldados.
Depois da convocação e da formação da 1ª DIE, deu-se início à preparação das tropas. O treinamento foi feito com equipamento ultrapassado e muito diverso daquele que os pracinhas usariam na guerra, além de ter sido rápido, insuficiente e restrito ao 1º escalão que seria enviado em 2 de julho de 1944 para a Europa. Os escalões que seguiram posteriormente não receberam qualquer preparo prévio, tendo que aprender tudo já no front. Os pracinhas não chegaram a treinar como uma divisão ou regimentos inteiros, devido a uma preparação bastante fragmentada, além do fato de o exército ainda usar a filosofia francesa de guerra, que vigorou até depois da Primeira Guerra Mundial, mas que já estava ultrapassada e vinha paulatinamente sendo substituída pela maneira norte-americana de fazer guerra. As tropas brasileiras receberam transporte, vestimentas, alimentação, equipamentos, armas e munição da máquina de guerra dos Estados Unidos.
Mesmo quando os desfiles das tropas começaram a acontecer nas principais cidades brasileiras ainda havia desconfiança de parte da opinião pública sobre a ida, de fato, do Brasil à guerra. As paradas militares visavam apresentar à população os bravos pracinhas que lutariam na Europa em nome do Brasil para honrar os mortos nas embarcações afundadas pelos alemães, e eles foram recebidos calorosamente pelo povo nas ruas. Parecia que a cobra ia, enfim, fumar.