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Pontos de vista: fotografia e cidade em álbuns do Arquivo Nacional

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  • Apresentação

    Fruto da cultura urbana do século XIX, a fotografia encontra nas cidades, além de um lugar de disseminação, também um objeto privilegiado. Reconhecido internacionalmente como uma das primeiras experiências do fazer fotográfico, o trabalho de Nicéphore Niépce, em 1826, debruçou-se justamente sobre a urbe. Utilizando-se de uma câmera escura e de uma placa de estanho coberta de betume, Niépce registrou muros e telhados vistos da janela de sua casa após mais de oito horas de exposição à luz e nomeou seu feito de “heliografia” – a escrita do sol. Originada de uma limitação de ordem técnica – o longo tempo de exposição requerido para registrar a imagem impunha a imobilidade do objeto –, essa experiência, conhecida como Point de vue du gras, iria dar início a uma prolífica série de registros do espaço urbano.

    O rápido aprimoramento tecnológico e a difusão do uso contribuíram para a massificação da fotografia e para a multiplicação das formas de olhar a cidade. As vistas urbanas e as obras de remodelamento tornaram-se frequentes nas imagens produzidas por profissionais contratados por administrações públicas e por anônimos, em registros mais intimistas e afetivos. Antes da fotografia, os meios para registrar as edificações eram o desenho e a pintura. A nova técnica permitiu uma divulgação sem precedentes da arquitetura e desempenhou papel importante no trabalho de alguns arquitetos, como o americano Henry Hobson Richardson, que colecionava álbuns com exemplares de criações europeias e os utilizava como fontes na confecção de novos projetos.

    Tornou-se hábito, igualmente, organizar essas imagens em álbuns, constituindo assim narrativas sobre as cidades a partir dos mais diferentes enfoques e interesses – vistas panorâmicas, detalhes arquitetônicos, melhoramentos urbanos, marcas de conflitos, recordações de viagem e registros de atividades comerciais, financeiras e de lazer. Os álbuns podiam ser organizados pelos próprios fotógrafos ou por indivíduos e instituições que adquiriam ou encomendavam as fotografias. Dessa forma, os sentidos atribuídos às sequências de imagens eram construídos pelos fotógrafos ou por quem as organizava e arranjava. Em um momento posterior, por quem narrava os percursos fotografados e por quem folheava os álbuns. E mais uma vez, já dentro das instituições de guarda de acervos, pelos técnicos e pesquisadores que os manusearam.

    O acervo iconográfico do Arquivo Nacional é abundante em fotografias, muitas delas organizadas em álbuns. Esta exposição apresenta imagens oriundas de quatro álbuns custodiados pela instituição que se debruçam sobre Rio de Janeiro, Paris, Manaus e cidades americanas, todos elaborados entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Período fundamental da história da fotografia, o final do século XIX assistiu à consolidação de uma linguagem fotográfica para abordar as cidades, de caráter eminentemente técnico e documental. As fotografias são frontais, há predominância de enquadramentos que favorecem a perspectiva e preferência por imagens que não retratem pessoas a menos que seja necessário para dar a ideia de tamanho do objeto representado. Na outra ponta, a fotografia mais afetiva, das viagens em família, embora dirija o olhar para os mesmos objetos, capta o dinamismo presente nas vias de circulação e nos fluxos de veículos e pessoas.

    O Rio de Janeiro é apresentado pelo fotógrafo Juan Gutierrez em 1894, no exato momento das comemorações pelos cinco anos da Proclamação da República. Feito sob encomenda, o trabalho expressa um novo olhar – o republicano – sobre a cidade que ainda mantém a memória dos seus espaços fortemente vinculada ao Império. Paris é vista pelos olhos de Gilberto Ferrez, em 1927, aos 19 anos de idade, quando de sua primeira visita à Europa, em parte do tempo acompanhado pelos pais. Atravessadas de afeto, as imagens também permitem entrever um fotógrafo em pleno processo de aperfeiçoamento. Manaus é fotografada por Marcos di Panigai, que acompanhou o presidente Afonso Pena em viagem ao Amazonas, em 1906. Arquitetura, hábitos e modismos franceses servem de espelho à sociedade da borracha, que busca dissociar-se da imagem de atraso. As cidades americanas são vistas pelas lentes de Albert Lévy, fotógrafo que organiza em 1886 o primeiro álbum, hoje raríssimo, sobre arquitetura americana publicado na França. Washington, Boston, Nova Iorque têm seus arranha-céus e residências escrutinados pelo fotógrafo francês.

    A exposição visa aproximar-se das diversas operações de seleção e ordenamento realizadas pelos fotógrafos e pelos organizadores dos álbuns: imagens mentais, decisões estéticas e técnicas, seleção das fotografias que compõem os álbuns, sequência de apresentação e disposição das imagens nas páginas, legendas manuscritas – indícios de suas formas de perceber e construir as cidades, formas essas marcadas pelo tempo e lugar de onde nos falam através de seus trabalhos.

    Denise de Morais Bastos

    Curadora

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