A biblioteca francesa
"Ando pela avenida Rio Branco onde outrora erguiam-se as aldeias tupinambá, mas carrego no bolso Jean de Léry, breviário do etnólogo." Era a década de 1930 quando o criador da antropologia estruturalista, Claude Lévi-Strauss, desembarcou no Brasil. Somente em 1955 publicaria Tristes trópicos, no qual, entre tantas impressões, narra seu encontro com os índios nambikwara.
Livro de bolso do antropólogo, a História de uma viagem feita à terra do Brasil, de Jean de Léry, fruto de sua permanência por dois meses entre os índios, foi impressa em 1578, vinte anos depois de sua chegada à França Antártica de Nicolau Durand de Villegagnon, no mesmo Rio de Janeiro onde esteve frei André Thevet, autor das Singularidades da França Antártica, de 1557. Uma das mais raras edições da Histoire d'un voyage fait en la terre du Brésil, dite Amérique... encontra-se na coleção de livros raros do Arquivo Nacional: escrita em latim e datada de 1586, se faz acompanhar de diversas reedições, como a de 1600.
Para muitos autores, tal como em Thevet, essas páginas evidenciam a vitalidade das ideias medievais no século XVI do Renascimento e do humanismo. Em seu tempo, ambos buscaram assegurar a veracidade de suas impressões, que, hoje, muito além da prova, renovam o impacto dessa realidade que era o Novo Mundo.