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O século nas páginas nem sempre diárias

O periódico do século XIX se apresentava de forma bastante diversa dos nossos jornais. A própria noção de "manchete" era desconhecida. Ao observarmos os jornais da época, percebemos que, em geral, há uma chamada, mas esta não remetia a um acontecimento excepcional que se desejava resumir e com o qual se intencionava chamar a atenção. Normalmente, era uma linha que fazia muito pouco sentido em si, e que só seria compreendida ao ler-se o texto: "que governo infame", "o novo reinado", "a censura", "notícias do Rio de Janeiro: abdicação do imperador" (esta última chamada, embora se referisse a uma notícia que ocupou páginas inteiras do jornal, não possuía nenhum impacto visual ou tipográfico, a despeito da importância do fato). Ainda estava por vir a época em que os órgãos de imprensa, em uma disputa que se tornaria cada vez mais acirrada, fariam uso de recursos visuais, semânticos e linguísticos para disputar a atenção do seu público. A primeira página do número que estampava a proclamação da República já anunciava a mudança, pois "VIVA A REPÚBLICA! Proclamação, 15 de novembro de 1889" ocupava quase um terço da folha, em letras garrafais.

Nas cidades, as notícias mais "quentes" se espalhavam em um intenso boca a boca nas praças e esquinas. A maioria dos jornais corria algumas vezes por semana, e seus relatos alimentavam as discussões em torno dos temas mais prementes, além de fornecer detalhes das notícias que se espalhavam através de uma forte rede de boatos. Se a maior parte da população era analfabeta, isso não impedia a formação de círculos em que um indivíduo letrado lia em voz alta para vários transeuntes que não sabiam ler, mas que se interessavam vivamente pelo que ocorria à sua volta. Questões como as rebeliões regionais da primeira metade do século, a guerra do Paraguai - que chegava aos brasileiros basicamente através de relatos e desenhos divulgados nos jornais - e a escravidão -, para cujo fim a pressão exercida através da imprensa mostrou-se fundamental - envolveram e apaixonaram um número crescente de pessoas.

Para além das grandes notícias que nos contam da política e da economia da época, os jornais também davam conta das transformações de costumes, novidades científicas, do cotidiano das cidades. Problemas como as enchentes no Rio de Janeiro e a falta de água nos dias de verão eram contados em palavras e traços, relatos que possibilitam que nós, nos dias de hoje, nos identifiquemos com os antigos moradores desta velha cidade.

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