A construção de Brasília
Inaugurada em 21 de abril de 1960, Dia de Tiradentes, Brasília contou também com uma cruz portuguesa, sinos coloniais, índios e uma reivindicação histórica que estava presente na arquitetura modernista. Lúcio Costa evocou José Bonifácio para falar da capital aérea e rodoviária, sonho do patriarca. E ainda mais, sem que pensasse em aviões, riscou uma cruz, gesto primeiro do colonizador.
Entre tantas remissões esse era também o mundo do pós-guerra e Brasília representava o futuro, capital definitiva do Brasil. A cidade foi construída em três anos com tijolos e outros materiais transportados de avião e com o uso inovador de toneladas de aço revestido de concreto em substituição aos tradicionais moldes de madeira, seguindo uma prática comum nos Estados Unidos. Feita a demarcação em 1954 pela Comissão de Localização da Nova Capital Federal, as obras de Brasília começaram em 1956, ano em que JK visitou pela primeira vez o lugar da futura capital acompanhado de Oscar Niemeyer.
A cidade que se erguia a partir do plano piloto de 1957 partia [de] dois eixos perpendiculares, que hierarquizavam as principais funções urbanas, distribuindo as de caráter cotidiano ao longo do Eixo Rodoviário, e legando os marcos atemporais e simbólicos ao Eixo Monumental. Destacavam-se os edifícios estatais, desapareciam as multidões das ruas, esqueletos de madeira se erguiam rapidamente formando o Congresso Nacional, os conjuntos residenciais, o Palácio do Planalto, a Catedral, em projetos inesquecíveis de Niemeyer, em mármore, concreto, vidro. Sofisticada, a decoração dos interiores mesclava arte brasileira moderna, mobiliário de designers como Sérgio Rodrigues e do próprio Niemeyer e estatuária barroca que as lentes de fotógrafos anônimos ou famosos souberam enquadrar, incorporando na transparência de vidros e cortinas as colunas do Alvorada.
E embora para muitos teóricos houvesse mesmo uma contradição em se tombar uma cidade signo da arquitetura moderna e nascida com o germe das mudanças, em 1987 o conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico de Brasília passou a integrar a Lista do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Unesco.