A Exposição de 1922: Memória e Civilização
Em 7 de setembro de 1922 foi, enfim, inaugurada a Exposição Internacional do Centenário da Independência, com direito a paradas militares e discursos do presidente da República e das maiores autoridades do país. Na ocasião, aproximadamente 200 mil pessoas atravessaram a Porta Monumental ao lado do Palácio Monroe, no final da avenida Rio Branco, à noite, rumo à área de exposição, feericamente iluminada por luz elétrica, para assistir ao renascimento da nação, para ver um novo Brasil que surgia ao som do Guarani, de Carlos Gomes, transmitido diretamente do Teatro Municipal, onde a orquestra se apresentava. Prevista inicialmente para ficar aberta ao público até fins de março de 1923, foi prorrogada até julho do mesmo ano, já que alguns palácios e pavilhões não ficaram prontos para a data da inauguração, sendo concluídos aos poucos nos meses seguintes à abertura oficial.
A exposição estava prevista para ser apenas nacional, mas ao se tornar internacional, em outubro de 1921, recebeu a adesão de 14 nações estrangeiras. Bélgica, Holanda, Dinamarca, Argentina, Reino Unido, México, Japão, Suécia, Tchecoslováquia, Noruega, Itália, Portugal, Estados Unidos e França montaram seus pavilhões na nova avenida das Nações, que passou a existir oficialmente desde a Exposição Universal de Paris, em 1878. O pavilhão francês, réplica do Petit Trianon, residência de campo de Maria Antonieta em Versalhes, foi posteriormente doado ao Brasil e hoje abriga a Academia Brasileira de Letras. O consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro fica hoje onde fora construído o pavilhão norte-americano. O país estrangeiro mais homenageado foi, não por acaso, Portugal, pátria mãe, com o qual o Brasil divide parte de sua História, sua língua e com quem partilha inúmeras afinidades culturais. Foi agraciado com dois pavilhões, um principal e um menor na avenida das Nações, tendo o maior sido transferido inteiramente para o outro lado do Atlântico, reconstruído em Lisboa, onde hoje funciona o Museu do Desporto.
Embora ainda haja questionamentos sobre o número de visitantes que compareceu à exposição ao longo de quase dez meses, acredita-se que mais de três milhões de pessoas percorreram suas ruas e pavilhões, número de forma alguma inexpressivo, levando-se em consideração que em outras partes do território nacional comemorações e eventos também aconteceram para celebrar data tão importante. Em um ano marcado por fatos singulares como a chegada, em junho de 1922, dos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral da primeira travessia aérea do oceano Atlântico, de Lisboa ao Rio de Janeiro, a exposição também foi palco de acontecimentos tais como a primeira transmissão radiofônica do Brasil: o discurso de abertura realizado pelo presidente Epitácio Pessoa; a iluminação especial que possibilitava visitar a exposição à noite e mesmo vê-la toda iluminada do outro lado da baía de Guanabara; além das primeiras exibições de cinema realizadas durante uma exposição, com filmes elaborados para a ocasião.
Foram mais de seis mil expositores, entre nacionais e estrangeiros, que disputavam em muitas categorias a preferência da comissão encarregada de julgar os produtos e atribuir as cobiçadas medalhas e diplomas de Grande Prêmio, Medalha de Ouro e Prata, que valorizariam seus artigos, seus nomes e as marcas de suas firmas. Durante o evento, também foram realizadas várias conferências e palestras sobre temáticas afins e, no curso do ano de 1922, foram ainda lançados diversos tipos de publicações, periódicos, programas, revistas, edições comemorativas de jornais, o Livro de Ouro, o Guia da Exposição (catálogo), cronogramas de atividades, publicações de outros estados e outras que não versavam sobre a exposição em si, mas que foram preparadas para a ocasião de celebrar a Independência do Brasil, como a Carta Geográfica do Brasil ao Milionésimo, elaborada pelo Clube de Engenharia para integrar a Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo.
Organizada pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, que deu a tônica e a temática da exposição, não se deve esquecer que estas eram a vitrine do progresso das nações, para dentro e para fora, o palco de monumentalização da cultura capitalista, de valorização da indústria e do trabalho, e de difusão pedagógica de normas de conduta e comportamento, especialmente para as classes trabalhadoras. Arenas pacíficas de disputas entre as nações, apesar da lembrança da Primeira Guerra Mundial ainda ser bastante recente, as exposições tinham como função estimular a indústria e a cultura urbana e moderna - principalmente em um país ainda tão rural como o Brasil -, visando ao aumento de divisas com o comércio, o turismo, a melhoria da infraestrutura nas cidades, além de construir uma memória para a (re)construção da identidade da jovem nação republicana que almejava a civilização