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Governo

Escrito por Renata William

Após sua tumultuada posse, João Goulart encontrou um país endividado junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), com inflação descontrolada, salários arrochados e greves e manifestações eclodindo a cada momento. Diante desse quadro, o presidente procurou ampliar a base política do governo, em uma tentativa de conciliar os interesses dos partidos e demonstrar a seriedade de suas propostas. Não se deve esquecer que Jango assumiu a presidência em regime parlamentarista, e seu primeiro ministro, Tancredo Neves, seria a face executiva do governo.

Em meio à polarização ideológica durante a Guerra Fria, a retomada de relações com a China, a Iugoslávia e a União Soviética e o apoio dado ao regime de Fidel Castro representaram uma ameaça à política norte-americana de conter o avanço do comunismo e alinhar toda a América Latina a sua posição ideológica e a seus interesses econômicos. Em 1962 o presidente João Goulart viajou aos Estados Unidos a fim de negociar as dívidas e obter novos empréstimos junto ao FMI para sanear as finanças públicas e convencer o presidente Kennedy de seu compromisso com a democracia.

De volta ao Brasil, tendo deixado uma boa imagem na América, mas sem os empréstimos esperados, Jango convocou o economista Celso Furtado para ser seu ministro extraordinário do Planejamento e elaborar um plano econômico que contivesse a inflação, o déficit público, ao mesmo tempo promovendo o desenvolvimento. Nasceu assim o Planto Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, uma semana antes da vitória do presidencialismo nas urnas do plebiscito. O Plano fracassou, pois embora o ministro da Fazenda San Tiago Dantas tenha se esforçado para seguí-lo, não conseguiu impor as medidas de rígido controle das contas públicas, o índice de inflação ultrapassou as metas, e em face disso a situação do Brasil junto ao FMI se agravou. Também não ajudava o fato de Jango, pressionado pelos sindicatos e pelo PTB, negociar aumentos salariais com diversas categorias.

As reformas de base foram a grande empreitada à qual Jango se dedicou. Essas seriam, entre outras, as reformas Agrária, Educacional, Tributária, Política e Constitucional, que previam a desapropriação de terras improdutivas para a agricultura familiar; a implementação de um projeto filosófico para a educação em todos os níveis, a reforma da tributação, equilibrando os impostos entre os mais pobres e os mais ricos, e o controle sobre o capital gerado no Brasil e enviado para o exterior pelas empresas multinacionais. No âmbito político, previa o direito de voto a analfabetos e soldados, a livre criação de partidos, a legalização do Partido Comunista e a concessão aos militares do direito de elegibilidade. Para tanto, era preciso uma reforma constitucional e o apoio de todos os partidos

Algumas conquistas se destacaram em seu governo, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a criação da Universidade de Brasília, o 13º salário para os trabalhadores, a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a inauguração da hidrelétrica de Três Marias, da siderúrgica Usiminas, para citar apenas algumas.

Mas nem tudo era crise naqueles anos. Em 1962, no Chile, o Brasil sagrava-se bicampeão mundial de futebol, feito inédito, ganhar duas Copas seguidas! Nem mesmo o presidente resistiu ao clima de expectativa e festa que dominou o país com a conquista. O ano de 1962 foi igualmente vitorioso para o cinema brasileiro: o Pagador de promessas, de Anselmo Duarte, baseado na peça de Dias Gomes, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O início da década de 1960 vê a bossa nova florescer e cair no gosto popular, em paralelo ao ressurgimento do samba do morro, trazido para o asfalto por artistas como Nara Leão. Essa mistura de artistas e ritmos acabaria gerando um outro gênero musical a partir do Golpe, a música de protesto.

Nos meses que antecederam o fim do governo, o estado crítico da economia acirrou as insatisfações da sociedade. Pressionado pelas ruas, imobilizado pelo Congresso, Jango não conseguiu controlar a situação porque se recusava a ferir os direitos e as pautas legítimas dos trabalhadores, mas também revelou-se inábil com os grupos que o combatiam. Apesar de ter procurado se aproximar de alguns setores e elementos das Forças Armadas, como o general Castelo Branco, por ele nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército, não conseguiu conter a conspiração para derrubá-lo.

 

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