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Apresentação

Encyclopédie, ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, teve o seu primeiro tomo publicado em 1751. Dirigida por Denis Diderot e Jean le Rond d`Alembert, a obra comporta, na primeira edição, em Paris, 35 volumes, concluídos em 1780. O Arquivo Nacional possui, em seu acervo de obras raras, a série completa dos volumes de pranchas e textos do que foi chamado "o livro dos livros". Um best-seller em seu tempo, criticada por vulgarizar o conhecimento, a Encyclopédie foi alvo de proibições, acusada pelos censores do Antigo Regime de "destruir a religião e inspirar a independência dos povos". Além de uma trama quase policial que envolve edições secretamente publicadas em Paris, temos aqui uma epopéia intelectual envolvendo alguns dos maiores nomes do pensamento moderno: Voltaire, Rousseau, Diderot e d´Alembert são os mais conhecidos em meio aos homens de letras que circulavam entre os cafés, salões e academias francesas, e que chegaram à América colonial através de suas idéias, repercutindo, sediciosamente, contra a ordem metropolitana e, ao mesmo tempo, balizando o desenvolvimento técnico e científico do mundo ibero-americano. 

Memória, Razão e Imaginação são as faculdades que presidem o sistema de conhecimento, correspondendo à História, à Filosofia e às Belas-Artes. Enunciado no Discurso Preliminar que abre a obra, de autoria de d'Alembert, o sistema é um tributo a Francis Bacon, ao pensamento seiscentista inglês. Se a Encyclopédie deveria "expor, tanto quanto possível, a ordem e o encadeamento dos conhecimentos humanos", o Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers deveria atender, em cada ciência e em cada arte, aos "princípios gerais em que se baseia e os detalhes mais essenciais que formam seu corpo e sua substância". Assim, desde o início, foi prevista pelos editores a edição dos desenhos, distribuídos em onze volumes. Realizadas com grande qualidade técnica, por desenhistas e gravadores, as pranchas pretendiam revelar a arte dos ofícios, em um elogio da técnica, compondo, ao mesmo tempo, cenas de ateliês, óperas, oficinas, laboratórios e cultivo, nas quais podemos perceber a perspectiva humanista. 

Devemos percorrer a Encyclopédie como uma exposição, sugere Roland Barthes, considerando que se a descrição dos objetos obedece a uma intenção tecnológica, mais do que isso, ela assume uma iconografia autônoma do objeto, cujo poder hoje saboreamos, já que não mais olhamos essas ilustrações com puros fins de saber. Com seu pressuposto de universalidade, a obra dos enciclopedistas, entre os quais destaca-se Denis Diderot, é, ainda, essencialmente francesa, o lugar onde é radicalizado o sentido das Luzes. Revisitar as pranchas da Encyclopédie, mais de duzentos e cinqüenta anos após o seu surgimento, é uma oportunidade de olharmos para o tempo futuro que a sua própria elaboração já comportava.

Claudia Beatriz Heynemann
Curadora

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