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Os pracinhas retornam

Os pracinhas retornam

O regresso dos contingentes, após onze meses de campanha, foi marcado por grandes festas e comemorações. Na então capital federal, o Rio de Janeiro, ou em diferentes localidades espalhadas pelo Brasil, os pracinhas eram saudados como heróis que colaboraram na derrota do nazifascismo. Essa caracterização heroica foi recorrente nos discursos das autoridades das Forças Armadas e do Estado, com forte repercussão na sociedade brasileira.

Divulgada repetidamente nos jornais e no rádio, a imagem dos “heróis da FEB” tomou as ruas. Escolas, associações, clubes desportivos e sindicatos reconheceram e homenagearam o esforço dos bravos combatentes que partiram para a Europa com um certo descrédito quanto à capacidade de enfrentar as forças do Eixo. O grande momento de manifestação dessas homenagens foi, sem dúvida, o Desfile da Vitória, ocorrido em 18 de julho de 1945, no Centro do Rio de Janeiro, por ocasião do desembarque do 1º escalão da Divisão de Infantaria Expedicionária, comandado pelo general Zenóbio da Costa.

A festa transcorreu ao estilo estadonovista das grandes comemorações de afirmação de valores cívicos e de união nacional. Bandeiras, estandartes, guardas de honra, alas de estudantes compunham o aparato para o desfile a ter início às 14 horas. Para garantir uma participação popular significativa, Getúlio Vargas decretou feriado nacional. Além do desfile, esse dia contou com recepções envolvendo autoridades brasileiras e norte-americanas, a exemplo do general Mark Clark, comandante do V Exército dos Estados Unidos, ao qual as tropas da FEB foram incorporadas.

A festa, as saudações, os hinos não durariam muito tempo. Logo os veteranos perceberiam que o retorno lhes reservava novos enfrentamentos. De imediato, os expedicionários foram proibidos de dar declarações públicas e até mesmo de andar uniformizados pelas ruas ou portando medalhas e condecorações. O Ministério da Guerra era o único lugar autorizado a pronunciar sobre os feitos da guerra.

O contexto político compeliu, em grande medida, a dissolução da FEB antes mesmo da chegada dos expedicionários ao país. Diante da popularidade de Vargas entre os pracinhas, da aproximação com o Partido Comunista Brasileiro e do movimento queremista, aliado a uma campanha presidencial iminente, militares e civis, temerosos pela manutenção do presidente no poder, engendraram um golpe, liderado por Eurico Gaspar Dutra, Góes Monteiro e Cordeiro de Farias, que derrubou Vargas em 29 de outubro de 1945.

A dissolução da Força Expedicionária Brasileira e posterior desmobilização deram início a um difícil processo de reintegração social e profissional. Os voluntários e os convocados, após sua participação no contexto da guerra, foram desincorporados do efetivo de expedicionários e das Forças Armadas, sendo impelidos a retornarem às suas vidas. Aqueles de origem civil foram mantidos distantes de qualquer participação política e os oficiais (não licenciados) sofreram oposições e reservas dos militares “espada-virgem” que ficaram no Brasil. A incidência de casos de alcoolismo e de traumas psicológicos agravava os problemas de ressocialização e aumentava a marginalização dos veteranos. À dificuldade material se somava a desvalorização de seus feitos e sacrifícios em combate. Apesar de a legislação garantir o retorno ao emprego para os convocados, a readmissão nem sempre foi possível. Considere-se ainda que parte significativa dos expedicionários era oriunda da área rural e não estava amparada por esses direitos.

Em suma, os integrantes da FEB não contaram com um programa de reintegração completo ao retornarem de um grande conflito militar como a Segunda Guerra Mundial. Apesar de terem sido criadas diversas leis e benefícios, os ex-combatentes não foram apoiados com os “direitos especiais”, como se poderia almejar.

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